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Mário Novais

Presidente da UAPEECM

Boa tarde a todos.

Provavelmente eu sou dos membros mais recentes aqui da FERSAP. Conhecemo-nos há pouco tempo. Eu comecei no movimento associativo naquela mesma situação: um dia fui à escola da minha filha mais velha e assinei um papel para criar uma associação de pais. “Que engraçado, o que é isto?” E criámos uma associação de pais. Na altura havia as comissões instaladoras e eu fazia parte dessa comissão. A associação de pais nunca mais avançava até que houve umas eleições autárquicas no Montijo e apareceu um folheto de uma pessoa que era para ser presidente da associação e que ia ser representante dos pais e aquilo indignou-me bastante.

Indignou-me bastante e eu andei à procura e descobri a FERSAP e liguei: “– Isto, afinal, como é que funciona?” E o presidente, o António Amaral, disse-me: “– Anda cá que eu falo contigo.”

E explicou-me como constituir uma associação de pais e nós construímos uma associação de pais numa escola local. A partir dali, houve muitas mudanças legislativas e formou-se um mega agrupamento e foi a FERSAP que me ajudou a criar uma associação de pais de agrupamento.

Naquele movimento todo, o Montijo estava com um problema: tinham acabado de assinar a lei sobre a transferência de competências e os refeitórios eram da Câmara e não eram do Ministério, as auxiliares eram da Câmara e não eram do Ministério. Não havia auxiliares, não havia refeições, não havia nada! E aquilo foi uma luta desgraçada, tremenda.

Sozinho não conseguia fazer nada e então o Amaral, na altura, disse-me: “– E se tu começasses aí a fazer uma assessoria pelas associações todas e crias uma concelhia?” E assim fiz e formamos a União Concelhia do Montijo, à qual eu presido à 10 anos. Juntámos o pessoal todo, extinguimos associações, constituímos outras associações e criámos ali um movimento bastante interessante.

Creio que ainda hoje no distrito de Setúbal, e posso dizê-lo com conhecimento de causa, é das uniões mais ativas que existem em todo o distrito de Setúbal, porque conheço quase todo o distrito. Quando estive na FERSAP, em todos os aspetos, conseguimos uma dinâmica bastante significativa.

A FERSAP tem 30 anos, já é difícil uma empresa manter-se 30 anos, quanto mais uma associação de voluntários. É muito complicado, porque, como diziam aqui, eu lembro-me que nós percorríamos o distrito todo. Então o António Amaral andou-me a chatear e convidou-me para vice-presidente. E fui vice-presidente da FERSAP dois anos. Visitámos o distrito todo, as escolas todas. Íamos até Sines, porque o distrito de Setúbal vai até Sines. É impressionante. Uma vez fomos até à Escola do Cercal, tivemos lá uma reunião e saímos já eram 02:00h.

Houve uma altura em que o António Amaral me disse, e disse-o inteligentemente – e acho que foi das coisas mais inteligentes que fez –: “– Eu, como vou sair daqui a uns tempos, preciso de preparar alguém para depois seguir isto.” Então, convidou-me para presidente da FERSAP e eu disse: “– Isso não vai correr bem…”

Chateou-me, chateou-me e insistiu dizendo-me: ”– Não te preocupes, nós temos uma equipa tremenda, vamos trabalhar.” E eu, acho que foi dos grandes erros que cometi e aqui, vou dizer pessoalmente ao Orlando, acho que tenho de pedir desculpa à FERSAP, eu não devia ter aceitado e aceitei. E tornei-me presidente da FERSAP.

Então, começámos a trabalhar juntos. Era eu, o vice-presidente que era do Seixal e tínhamos muito históricos e trabalhámos bastante. Claro que era difícil substituir uma pessoa tão polivalente que durante muitos anos liderou a instituição. E depois começou a haver aquelas questões, que talvez também houvesse na CONFAP: “Agarrámos nisto e vamos sozinhos para a frente.” Até que chegou uma altura, e aí foi a parte mais engraçada, mais histórica, que foi o Seixal.

Houve uma altura, nestes anos todos, em que havia muitas associações de pais que deviam muito dinheiro por causa das AEC. Associações de pais falidas. Nós íamos a escolas que tinham associações de pais que deviam à Segurança Social 10 e 15 mil euros. Coisas absurdas. Havia também uma no Seixal que geria as AEC e, na altura, o meu vice-presidente tinha sido presidente da associação do agrupamento, a qual era responsável pelas AEC, gerindo quase 200 mil euros por ano. Era uma coisa absurda e começou a haver indícios de desvios de dinheiro, aquelas histórias todas muito complicadas e nós decidimos intervir. Intervir e começar a falar em todos os concelhos como seria o futuro das AEC e geridas por quem e para quem.

Porque será que o futuro das AEC são os pais que o têm de fazer? Quando eu entro para uma associação de pais, começo a gerir as AEC, o meu filho sai da escola, eu saio, e como é que fica o resto? Como é o amanhã? Vamos abandonar tudo? Todo o trabalho que foi feito? Isto é mesmo assim, vocês sabem-no, porque já andam nisto há muitos anos.

Imaginem, eu estou numa escola primária, a associação de pais é muito dinâmica porque eu estou lá, eu saio da escola primária para outra escola e aquela associação de pais morreu. Recomeça-se na outra e estão sempre os mesmos. Ainda agora o Ascensão quando saiu disse assim: “– No Montijo és tu e o outro. Nos últimos 10 anos não conheço mais ninguém.” São sempre os mesmos.

Nós então começámos a pensar como é que seria, como é que isto podia ser feito para que aquilo que foi feito de bom não morresse nas escolas. E chegámos ao Seixal onde era preciso intervir, isso não agradou a determinadas pessoas e começou uma guerra muito grande até que eu apresentei a minha demissão para não haver mais conflitos. Houve muitas confusões que eu achei incorretas e decidi afastar-me. Quem assumiu a presidência era o vogal, que na época era o Farto.

Este é o problema de muitas associações de pais, é aquilo que dizem: ou é para o meu filho; ou para a sala dele; ou para o professor; e depois, o resto não me interessa. E nós hoje temos um grande defeito na nossa sociedade que é não conseguirmos olhar para o global e olhamos só para o pontual.

A grande questão hoje é a globalidade daquilo que nós queremos. Nós não podemos fazer intervenção sem ver o que queremos para amanhã. Isto é um grande benefício que a FERSAP tem. Eu como pai e dirigente associativo digo assim: ”– Para que é que eu preciso das federações? Para que é que eu preciso disto tudo?” Eu lembro-me, aliás, falei ainda há pouco com o Boa-Nova, eu estava nessa reunião onde o Roque entrou. Deram-lhe razão, porque ele tinha razão na discussão que travou. Não lhe queriam dar a palavra e depois a presidente da mesa, que era do Porto, disse que ele tinha razão pela observação que fez sobre as federações e os votos. Mas deram-lhe razão por que ele tinha razão naquilo.

Sempre houve uma grande luta entre o Norte e o Sul. Era uma guerra tremenda nestas coisas e isso é que fazia com que muitas pessoas se afastassem. Dou-vos um exemplo concreto. Eu agora estou no centro de educação principal do Montijo, sempre estive nos conselhos gerais e há uma coisa que me irrita nos conselhos gerais.

Por exemplo, no Conselho Geral começam a apresentar-se as pessoas dizendo que é professor, tem este curso e o outro é o representante dos pais. Não, não. Eu não sou “o pai”, desculpem. Eu talvez tenha mais habilitações literárias do que toda esta gente junta. Eu não sou “o pai”. A mim nunca ninguém me perguntou o que faço. Nestes últimos 15 anos em que ando nisto, nunca ninguém me perguntou o que é que eu faço, qual o meu contributo para a escola, quem eu sou.

Apresentam todos com os respetivos cursos e habilitações e depois, chegam ali, e é “o pai”, porque a lei obriga a que estejam lá. Ainda ontem tive uma reunião da Comissão da Proteção de Menores e a presidente disse-me: “– Mário, temos de falar porque tu às vezes não vens e é chato.” E eu respondi-lhe: “– Sabe porque é que eu não venho? Porque isto não interessa para nada”.

A lei obriga a que nós estejamos lá, mas depois a nossa intervenção não é respeitada ou nem nos perguntam qual é a nossa motivação para lá estar. É uma motivação política? É uma motivação pessoal? É uma motivação social? É o quê? As pessoas têm direito a responder. E aí é onde nós temos esse défice na Federação e existem essas questões todas, porque todos nós que somos voluntários, que temos de pagar o nosso voluntariado – é verdade, lembro-me que nós reunimos todas as primeiras quartas-feiras de cada mês na FERLAP, à noite, aliás, das últimas vezes já sabíamos que as reuniões se iriam estender, íamos todos para o Montijo lá para as 2/3h da manhã –, o que é que extraímos dali?

Muita coisa. Eu recordo-me que foi com a ajuda da FERSAP – um facto que também ajudou bastante – que nós criámos uma legislação de voluntariado lá, porque tínhamos um problema grave nas escolas e a FERSAP ajudou-nos nisso. Nós criámos trabalho, mas não se tornou visível. Porque, depois, os pais acham que nós somos profissionais: “Onde é a sua sede? Onde é o seu escritório?”

O meu escritório? São destas perguntas que me fazem. Hoje nós temos uma questão e chegamos à conclusão de que – é o pensamento que agora tem de ser convocado – é necessário ponderar isto: será que são as associações de pais que têm de fazer os complementos de apoio à família? Serão as associações de pais que têm de intervir nas AEC? Eu tenho algumas questões, algumas dúvidas.

Nós, no Montijo, tivemos esta problemática, aliás, eu depois estive na FERSAP e 4 anos na CONFAP e, na altura das AEC, eram as mesas redondas das AEC e eu fazia o distrito de Setúbal todo. Gostei, houve muitas questões importantes. Lembro-me de uma em Alcochete que me deixou bastante chocado: estava um senhor ao meu lado que percebi ser do PS porque havia outro do lado esquerdo que era do PSD. E começou tudo a discutir por causa de política, quando o principal problema era a questão da educação. Lembro-me dessas questões todas que nós discutíamos, mas nós temos de analisar aquilo que queremos.

O pai sai da escola e aquilo morre tudo. Então, nós por exemplo, no Montijo, começámos a preparar algo que eu acho que pode ser interessante, não sei se é a melhor solução, mas pelo menos é uma tentativa. Consiste no seguinte: há muita gente que, como muitos de vocês que aqui estão, têm uma experiência no Movimento Associativo, não obstante terem saído.

Estas saídas perdem-se. Os conhecimentos, as vivências, as dinâmicas, as lutas, na altura muito importantes, tudo isto se perde. Quem vem de novo não tem estes conhecimentos e não tem oportunidade de ter os vossos contactos e poder perguntar-lhes como era no vosso tempo, como é que faziam as coisas. Assim, este conhecimento perde-se.

Então, nós começámos a criar coisas como complementos de apoio às famílias. No Montijo criámos com muitos pais, muitos administrativos e com associações desportivas onde as pessoas têm os vários associados. Esses associados é que vão tratar dos rendimentos de apoio à família e a pessoa mesmo que saia da associação de pais, continua e tem estas vivências e este trabalho. Não sei se é a melhor solução, está a ser tentada, o que é certo é que agora nós estamos a fazer o complemento de apoio à família a quase todas as escolas do Montijo, o que antes não existia.

Estamos a conseguir fazer tudo isso com apoio social, bolsas de estudo, trabalhando com a Comissão de Proteção de Menores que nos manda as crianças e nós damos-lhes apoio ao estudo sem elas pagarem, toda essa vivência, a lutar muito com o Conselho Municipal da Educação para que possamos ter verbas e orçamentos para estas coisas e isto tem resultado. Não sei se é a melhor solução, é uma tentativa.

E, daí, fazendo a ligação com a FERSAP, a menor atividade agora talvez tenha a ver com este perder-se das associações.

Fizemos muitos congressos, muitos seminários. Aliás, a minha saída da FERSAP foi depois de nós fazermos os vários seminários, mas foi antes do de Setúbal. Fizemo-lo aqui em Almada, a pensar, afinal, o que é que nós queremos para o território amanhã? O território termina onde?

E para nós podermos pensar a Escola, como é que ela pode ser, será uma boa oportunidade para a FERSAP agora.

Eu vim aqui com muito gosto reviver os velhos tempos e dizer à FERSAP, aqui na presença do Orlando, que podem contar com o Montijo, nós estamos disponíveis para ajudar naquilo que for preciso, sempre no espírito de ajuda, no espírito de criarmos melhores condições para as nossas crianças, para as de hoje e as de amanhã, porque eu posso não precisar, mas amanhã há outros que precisam. No apoio social, que é muito forte, nós vivemos épocas complicadas, porque as crises económicas são sempre difíceis para as crianças com menos recursos.

Eu recordo-me que na última crise económica que nós tivemos havia muitas crianças que tomavam o pequeno almoço na escola, a única refeição que tomavam era na escola. As associações de pais aí têm um valor muito importante dado que podem atuar nesse movimento social.

Portanto, pensar isto: como é que nós podemos criar estes movimentos sociais? Pode ser importante na ajuda e eu acho que aqui a FERSAP tem um papel muito importante a pensar estas questões no contexto global e não só na minha escola, e depois nós, nas associações de pais locais, cuidamos do resto, das dinâmicas implicadas e isso é que é fundamental.

Só uma última nota. Eu lembro-me de que nós também criámos um famoso clube de pais, não sei se alguma vez ouviram falar. Funcionou em algumas escolas. Na altura, quando estava na FERSAP, criou-se um regimento onde uma escola, apesar de não ter associação de pais ou esta estar extinta, havia o famoso clube de pais com três pais, na alçada da União Concelhia que ajudava a que houvesse um interlocutor na escola com os pais, com a direção da escola, com o coordenador da escola.

Era algo, que de certa forma era, digamos, uma forma de resolver um vazio de representação. “Já que não encontramos as onze pessoas…”, vocês sabem que tínhamos onze nomes e dos onze, oito nunca apareciam e para arranjar suplentes era uma coisa terrível. Só apareciam quando havia problemas. Aliás, uma assembleia geral com vinte pessoas é magnífico. Uma vez tive uma com oitenta pais por causa de um problema no Montijo, em que um jardim de infância não podia abrir, então fizemos uma assembleia geral e apareceram os pais todos.

A nossa grande mágoa, e a mágoa que eu acho que todos nós temos, e isto é como quando somos meninos pequeninos e começamos uma atividade desportiva, tem de haver muito espírito de sacrifício. E essa grande mágoa que nós sentimos é esta: quando fazemos uma assembleia geral – e vocês já passaram por isso – e um pai diz assim: “– A Associação de Pais não faz nada! A Associação de Pais é isto, é aquilo.” E, na verdade, este tipo de intervenções acontece.

Nós não temos poder, nós fazemos aquilo que podemos e muito fazemos nós no interesse global dos pais, mas eles não entendem isso. Só entendem quando passam para este lado e é muito difícil passar para este lado. É muito difícil passar o testemunho. Todos vocês devem ter sentido isso.

Por isso, a FERSAP, eu acho, teve uma mais-valia nessa época, na altura, acho que o António Amaral teve uma atitude muito digna ao dizer-me: “– Eu tenho mais dois anos. Vem para perto de mim porque eu quero que sejas o meu substituto.”

Foi muito difícil convencer-me, conseguiu-o, de uma maneira ou doutra, porque era a forma de passar-me o testemunho da sua experiência para depois nós trabalharmos. Outra coisa foi depois as questões internas entre eles. Andaram todos à guerra e eu aí afastei-me e foi o melhor que fiz.

Portanto, essa foi a minha vivência na Federação, foi muito bonito. Continuei a acompanhar a Federação naquilo que fazia, hoje não tanto.

Na CONFAP também foi bastante interessante. Houve vários seminários em que participámos e vários eventos, mas depois era difícil, porque para ir às reuniões uma pessoa tinha de se deslocar ali ou acolá e era um pouco complicado. Se nós fossemos a cobrar os km como estão nos estatutos, aquilo seria tremendo.

Eu quando me fui embora disse que não queria nada. Para aqueles que têm facilidade como eu, que tenho o meu próprio carro, isso ajuda, mas é muito difícil esta vivência do movimento associativo.

Vejam, hoje, eu esperava encontrar aqui muitos dos nossos colegas e companheiros nesta luta. Obviamente que a vida às vezes não nos permite, mas o reflexo do dia de hoje é o reflexo do dia a dia das associações de pais. Até quando, não sei. Porque aqui – e ouvimos o que o Jorge comentou sobre a CONFAP –, eu assisti em Cantanhede à primeira eleição. Fui eu e outros colegas e assistimos lá a uma intervenção muito emotiva, naquele aspeto, mas hoje nós vemos que o reflexo da FERSAP é o reflexo das federações, é o reflexo das associações de pais.

Este pseudoabandono, que é pela “carolice” de meia dúzia de pessoas que aqui andam e outros que já não estão, como vocês que chegam aqui e dedicam o vosso tempo a dar a conhecer uma experiência daquilo que foi o passado.

O associativismo é mesmo isto, é o gosto por ajudar os outros e isto é uma mais-valia magnífica e por isso, a mim pessoalmente, dá-me muito gosto estar aqui, porque a dedicação de cada um a uma causa que não é exclusivamente nossa – é a nossa, sim, mas num sentido coletivo –, é a coisa mais magnífica que existe.

Portanto, parabéns à FERSAP, que sejam muitos anos e, Orlando, quando quiseres reativar algo, estás à vontade, que nós ajudamos naquilo que pudermos.

Muito obrigado.