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Jorge Duro

Em primeiro lugar, queria agradecer ao Orlando este amável convite e felicitar a FERSAP pelos seus 30 anos. Enfim, não tenho as histórias que esta ilustre audiência apresentou aqui hoje, não tenho tantos anos de experiências em termos de movimento associativo parental, mas já lá vão 7 anos.

Efetivamente já são 7 anos. Tive experiências sim, em termos de movimento associativo de federações desportivas, associações desportivas, tive toda essa experiência bem antes de estar no movimento associativo parental e apareci aqui também um pouco, quase por imposição. Portanto, eram necessárias também 11 pessoas na altura para a reativação de uma associação que esteve inativa durante 7/8 anos e que quando o meu filho mais velho entrou para o 1º ciclo, uma amiga nossa, uma vizinha, apanhou-me no meio da rua e disse: “– Vamos reativar aqui a associação de pais”. E eu respondi-lhe: “– Está bem, vamos pensar nisso.”

Entretanto, realmente pensámos nisso, e assim o fizemos. Não sabíamos sequer os estatutos, o que é que existia, o que não existia, descobrimos duas ou três pastas onde estavam os estatutos, uma cópia dos estatutos e uma ou duas atas, não mais que isso. E decidimos reativar essa associação. Na altura, ninguém sabia o que era a FERSAP, também pesquisámos e lá encontrámos a FERSAP e foi o António Amaral que nos ajudou bastante a reativar essa associação. Reativámo-la e continuei nessa associação onde ainda estou hoje. Enfim, o meu filho passou do 1º ciclo para o 2º, entretanto entrou o outro filho no 1º ciclo e lá fiquei.

No próximo ano vamos ter o problema da sucessão, efetivamente vamos ter esse problema e é um problema que eu acho que é comum a qualquer associação de pais neste país, porque as pessoas usam sempre o velho cliché: “Eu não tenho tempo.” É assim, eu também não tenho tempo, é uma realidade, mas apesar disso cheguei a acumular como presidente de uma associação de pais; estar na antiga concelhia de Palmela que, infelizmente, já não está ativa desde 2017; estar no conselho geral; e fazer parte dos órgãos sociais da FERSAP. E, posteriormente, quando o meu filho mais velho passou para o 2º ciclo, eu estava como presidente de uma associação de pais e como vice-presidente de outra associação de pais, e não tenho tempo. Isto é uma realidade. Portanto, nós fazemos isto por amor à camisola, foi efetivamente aquilo de que há pouco – antes de termos esta reunião –, estava ali fora a falar com um companheiro e é uma verdade. Se as coisas corressem bem, não havia necessidade de uma associação de pais. Isto é uma realidade.

Muitas vezes fomos apelidados de associação de festas, mas não. Somos uma associação de pais. Eu resido em Palmela, não sou natural de Palmela, estou em Palmela porque quando casei, alguém me resgatou para lá, esta é a realidade. E não é uma zona muito fácil, infelizmente. Em termos autárquicos, as coisas não funcionam bem, portanto, nós tivemos alí muitos problemas. A escola do 1º ciclo que eu represento era uma escola em que durante 10 anos, não houve um vereador da educação que passasse por lá. Era a única escola do agrupamento de escolas de Palmela que não tinha sido pintada, era uma escola que estava, como eu disse muitas vezes, condenada ao ostracismo. Porquê?

Porque os senhores da Câmara de Palmela, a determinada altura, meteram na cabeça que aquela escola seria para acabar e iriam fazer ali instalações municipais. Agora, o que é que aquilo tinha? Não tinha nada. Janelas antigas, estamos a falar de uma escola com a arquitetura do Estado Novo, aliás, que ainda são as melhores escolas, mantinham as janelas quase originais, em madeira, porém as crianças passavam frio. O refeitório, chamar aquilo de refeitório era um pouco estranho. Pavilhão não tinha, era um prolongamento do refeitório, se calhar uma sala com esta dimensão [local onde a reunião decorria?] onde as crianças podiam fazer as suas atividades físicas. Não havia proteção para saírem de um bloco para o outro e, a realidade é que se nós hoje formos àquela escola, tem tudo isso. Isso foi fruto de 6 anos de luta, luta da associação, muitas vezes confrontando a autarquia. Eu estive várias vezes em reuniões com o presidente da câmara, aliás, numa delas, uma das últimas em que estive, enfim, chamei-o à atenção. Não é uma escola muito grande, tem cerca de 110 alunos e aquilo que eu lhe disse foi: “– Toda a gente sabe que vocês fazem zero. Comece a multiplicar isto pelos pais, pelos avós. Já viram a visibilidade que vocês têm? Os votos que vocês não vão ter, os problemas que vocês têm aqui a este nível.”

A realidade é que mais tarde se conseguiu que fossem doados computadores, aliás, era uma escola que não tinha papel higiénico, não tinha material de limpeza. Portanto, nós, com algumas festas, conseguimos obter fundos necessários, era esse o objetivo, termos sido acusados de associação de festas, porque tínhamos uma festa de final de ano, foi injusto. Chegámos a fazer festas pela Páscoa em que realmente havia uma angariação de fundos e as coisas funcionaram bem. E, nós, estamos a falar de uma escola do século XXI, numa autarquia que muitas vezes fala na questão da educação, nisto e naquilo, mas não. É uma autarquia em que, infelizmente, as coisas estão como estão. Continuam assim, mas apesar de tudo, a escola está bem, até tem uma horta pedagógica, mas não tinha nada.

Aquilo era uma escola. Nós estávamos no século XXI, mas, era uma escola dos anos 60/70. Esta é uma realidade que nós temos, que existe aqui, bem perto, se calhar multiplicada por muitas escolas do país. Isto foi um pouco para falar desta vivência, do meu aparecimento, digamos, neste movimento associativo parental e, tenho muita pena, já não estou numa das associações, saí, acho que devo dar o lugar às pessoas.

Realmente, o tempo é cada vez menos e, com muita pena, saí de uma delas, mas, com certeza vamos ter aqui o problema da sucessão e isso é um problema que acho que devia ser uma coisa talvez mais discutida. Todos nós devíamos debruçar-nos sobre isso, porque tentar cativar os pais, tentar chamá-los à razão, é deveras difícil e esta é que é a verdade. Muitas vezes o pai vai a uma associação de pais porque tem lá o seu filho. Eu quero o melhor para o meu filho. Tudo bem, nós queremos o melhor para os nossos filhos, isto é uma realidade. Eu ali tratava todos eles como se fossem meus filhos ou como se fossem meus sobrinhos. Isto é uma coisa que eu sempre fiz e que todas as pessoas que estiveram comigo, pessoas muito válidas, sem dúvida, naquela associação, na reativação daquela associação, interpretavam dessa forma.

Isto é uma realidade, isto é um problema que nós vamos ter com toda a certeza ali, em Palmela. Eu acabo sempre por estar por trás de uma reativação. Quando foi a reativação de uma associação do 2º ciclo, foi a reativação de outra, portanto, eu estou sempre ali atrás de qualquer coisa reativada.

Não tem sido fácil, mas cá está, aquilo é o mais preocupante e o que aflige muitos pais que ali estão é realmente o problema da sucessão. Eu tenho ali pais que também vão continuando, lembro-me de um casal, por exemplo, que tem três filhas e continuam naquela associação, tal como eu continuei com os meus filhos, mas já se coloca ali um problema e já começámos a fazer contas. Isto se calhar, para o ano só vamos ter aqui cinco pessoas, porque mais ninguém se interessa, portanto, não há aquele incentivo. Por parte da autarquia não há nada, muitas vezes até podíamos contar com a autarquia, mas ali não podemos contar com ninguém a esse nível e é isso que falta.

Ontem não tive oportunidade de estar em Palmela, não sei se esteve lá o vereador da educação ou não, mas são pessoas totalmente desapegadas, como se costuma dizer, a este nível.

E é um problema que existe em Palmela. Acho que será, talvez, um tema de reflexão a nível futuro.

De qualquer forma, mais uma vez, parabéns à FERSAP.