Quero cumprimentar todos os presentes, não conheço todos pessoalmente, mas cumprimento e agradeço pelo trabalho desenvolvido e que nos permite estar aqui hoje. Quando entrei para a FAPAG [Federação das Associações de Pais do Concelho de Gondomar] acompanhava a CONFAP no nosso debate sobre a participação parental, seria presidente o Sarmento, aqui presente.
Pedi para falar desde já, primeiro para vos dar a noção do que tem sido o movimento desde que estou na CONFAP, 2011, comparando um pouco com a minha perspetiva anterior, enquanto participante pela FAPAG. Também porque ainda quero chegar hoje ao Porto e, desde já peço a vossa compreensão, por sair antes do final desta reunião.
Quando percebi que estávamos aqui para trocar experiências de quem tem vindo a fazer este nosso caminho coletivo, fiquei grato porque sabia que ia rever companheiros com quem convivi tempos, com mais ou menos intensidade, muito inspiradores e construtivos. É, pois, uma honra e um gosto partilhar convosco como vivi, e vivo, neste movimento, nas Associações de Pais, na Federação e na CONFAP, o que era na altura, o que é e o que me fica na memória. Lembro que quando iniciei a minha participação na FAPAG, esta era, de certa forma, contestatária, com o natural debate que democraticamente se promovia, daquilo que era a linha orientadora da CONFAP. Um debate por vezes intenso, mas quase sempre com civilidade. Sempre fomos sabendo estar, construir e progredir, e hoje temos na CONFAP companheiros que estiveram, pela primeira vez, em Braga.
Alguns companheiros chegados de novo, pelo calor da discussão, hesitavam em permanecer. Vivíamos intensamente as nossas convicções e o associativismo. Para muitos de nós o voluntariado está-nos no sangue, alguns começámos o associativismo muito cedo nas nossas comunidades e, também por isso, o voluntariado no MAP está-nos no ADN.
Somos de facto um movimento plural e democrático que obviamente incorpora muitas diferenças de pessoas e de comunidades. É por isso natural que haja debate com expectativas distintas. Lembro-me de muitas dessas discussões nos encontros nacionais e nas assembleias-gerais da CONFAP, e a grande preocupação sobre a sua organização interna e de estatutos. Recordo-me perfeitamente de dizer na altura, e ainda o defendo hoje, que a CONFAP deve ter como principal missão criar condições para melhorar o trabalho das associações de pais nas escolas. O debate interno, muitas vezes desfocava-se daquelas que eram as preocupações das associações de pais nos seus territórios, como questões de carência social ou de infraestruturas, por exemplo. Portanto, muitas vezes essa discussão, com o calor da nossa humanidade, situava-se muito no que eram os estatutos, a nossa forma de poder estar e de nos organizarmos enquanto confederação. Algumas vezes, as intervenções nas Assembleias-gerais, eram pouco disciplinadas, natural nestes fóruns, mas eu sempre entendi que a nossa participação devia ser disciplinada e com civismo e criticava, inclusive os meus companheiros de federação, quem tivesse atitudes que eu achava criticáveis. Entendo que não é essa a forma de estar e ao longo dos meus mandatos fomos construindo uma disciplina regulamentar de participação com respeito pela MAG e pelos companheiros intervenientes. Hoje existe mais essa disciplina e esse cuidado de falar no momento certo e quando a palavra é dada. Todos os companheiros, associados honorários e outros que pretendam assistir, podem ir a uma assembleia e continuar a sentir o nosso movimento. Temos gosto de que haja partilha intergeracional, é mesmo salutar que o haja.
Comecei as minhas primeiras intervenções em representação da FAPAG, numa Assembleia-geral de discussão estatutária em Coimbra e foi também pela forma como procurei intervir que o Albino me desafiou a ser seu vice-presidente em 2011. Ele disse-me na altura, uma coisa que nunca mais esqueci: “Criticais e até podeis ter alguma razão, vem colaborar por dentro para perceber o que isto é e fazer como entendes ser melhor.” Muito aprendi com a sabedoria dos mais velhos, e não tenho dúvidas de que o MAP é uma grande escola e um espaço onde se constroem amizades sólidas. Para quem chega a nossa mensagem é simples e sincera, vale a pena participar, conhecemos melhor a escola dos nossos filhos, temos a oportunidade de contribuir para que tenham melhor educação e sejam mais felizes, conhecemos pessoas muito interessantes, fazemos amigos para a vida e nunca mais somos os mesmos como cidadãos.
Lembro-me de pensar “já me tramou”, pois entendo que quem critica e quer fazer diferente tem de estar disponível para ser parte dessa mudança. Por isso, lhes respondi que sabia que sendo eu um crítico de algumas situações, era meu dever colaborar, mas tinha uma condição: “não ter que participar em todas as reuniões do CE, que se realizavam pelo país”. Concordamos que eu não teria de estar em todas as reuniões, pois, mas não faltei a uma. Na altura, a CONFAP aproveitava vários acontecimentos para realizar as suas reuniões e eu gostaria muito que pudesse continuar a ser assim, mas por razões orçamentais que foi muito reduzido, não foi possível manter essa opção. Por exemplo hoje, o Orlando ainda nos lembrou que se o pretendêssemos poderíamos fazer a reunião, mas isso implicaria a deslocação de todos os membros do CE e não temos condições para o fazer, embora uma vez por outra o tentemos.
Todos temos uma ideia, e procuramos inovar ou evoluir conforme entendemos ser o melhor para os nossos objetivos comuns. Aproveitando para felicitar a FERSAP pelos 30 anos, acho interessante partilhar convosco que nós na FAPAG pensávamos que se somos uma confederação deveríamos sê-lo essencialmente de federações, pelo que apresentamos uma proposta estatutária nesse sentido, dando mais importância às federações, embora continuando a considerar as AP como associadas. A ideia era incentivar as AP a constituírem federações nos seus concelhos e incentivar as federações a apoiar e envolver as AP, fortalecendo o MAP local e fazendo das federações interlocutores facilitadores da intervenção da CONFAP e da participação parental nas escolas e nas comunidades concelhias. Hoje reconheço que é um ideal utópico, a fraqueza da natureza humana e a apetência pelo poder são fatores potenciadores de obstáculos e de barreiras que dificultam todo um trabalho feito ao longo dos anos e desenvolvimento, por vezes tão difícil, da intervenção cívica e política da CONFAP em prol de melhor intervenção parental, mais consideração dos parceiros e reconhecimento do valor que acrescentamos. Mas, a intenção era, de facto, que pudéssemos ter em cada concelho uma federação, só que a questão não era só de alteração estatutária, era imperioso que a própria CONFAP tivesse tempo para estar no terreno a acompanhar as diversas situações e até que o MAP atingisse a maturidade necessária para prosseguir o seu caminho com autonomia e como um todo nacional. Essas condições de tempo e de financiamento não existiam e não existem. Hoje percebo que ainda não atingimos as condições humanas e de recursos para esse nível de organização que a FAPAG propôs, pelo que, e talvez essa tenha que se manter a essência do nosso Movimento, as AP devem ser as associadas mais relevantes da CONFAP, ainda que o nome Confederação sugira associação de federações.
Ainda ontem estive em Palmela para refletir e motivar as AP a reativarem a sua Federação, e constatei mais um exemplo, como tantos outros pelo país fora, da falta de condições nas comunidades para nos associarmos e nos organizarmos na nossa intervenção parental pela melhoria das escolas. Ainda hoje de manhã ouvimos este testemunho, do afastamento dos Pais relativamente às suas Associações, o que se complica ao nível da Federação.
Neste momento, os estatutos preveem associações de pais, federações e confederação. Criou, na altura o Amaral, que não pôde estar aqui hoje, mas na revisão estatutária da Vila Nova de Gaia, havia uma revisão que era proposta pela FERSAP, creio eu, e outra pela FAPAG, esta dava o passo já, mais para a frente, de uma representação em congresso por método de Hondt. Para não criar uma rutura dentro do movimento, a FAPAG cedeu na sua proposta e só mais tarde se concretizou uma revisão que não era bem o que a FAPAG propunha e acabou por ser um remendo, o que nem sempre resulta. Neste momento estamos já a pensar clarificar alguns conceitos, nomeadamente o do peso representativo das AP. Avançámos para as Federações, cabendo às AP decidirem qual o âmbito geográfico que melhor se adequa ao seu trabalho dentro dos objetivos do MAP. Temos hoje o exemplo da FAPOESTEJO que é uma federação que engloba 35 concelhos, creio eu. Abrange cerca de 800 escolas. Creio que mais tarde ou mais cedo terão que rever a sua abrangência para que o seu trabalho seja eficaz, mas para já é como se sentem melhor e têm desenvolvido um trabalho excelente. Julgo que se crescer como nós esperamos, acabará depois por se constituir em, provavelmente, duas ou três federações, mas como eu sempre disse e temos vindo a defender, cada território organiza-se da forma que melhor entender, sem deixar de acompanhar aquilo que está a acontecer na educação. Deixou de haver as direções regionais da educação, e, goste-se ou não, surgirá a descentralização.
Voltando um bocadinho à história da Confederação de que a FERSAP faz parte, como todas as federações, nós começamos a repensar o que é que podíamos fazer a esta organização da estrutura da Confederação, para garantir o nosso foco com rigor, com ética e com regularidade normativa e institucional, sobretudo para garantir a nossa missão na defesa do melhor interesse de cada uma das crianças e dos nossos jovens.
Isso vai-nos exigir muita atenção e muito cuidado para aquilo que é hoje a tentação para instrumentalizar a educação e, portanto, é bom que tenhamos Federações fortes para defender as questões locais e, espero eu, com a consciência de que devem ajudar a fortalecer a CONFAP para exigir as melhores condições para todos. É bom que possamos trabalhar em campo mais alargado para poder partilhar entre concelhos vizinhos – que será o papel da FERSAP –, nós na AMP (área metropolitana do Porto) constituímos, informalmente, o conselho consultivo das federações da área metropolitana, por exemplo. Certamente com a divisão por CIM [Comunidade Intermunicipal], o MAP terá que ter trabalho colaborativo, conforme a organização do trabalho de quem decide a educação nas comunidades.
A história é importante para percebermos a evolução do nosso movimento e o contexto em que acontece. Lembro a celebração dos 40 anos da CONFAP em Coimbra, com a presença de alguns dos seus fundadores, para que partilhassem connosco as suas experiências e para podermos compreender as razões de cada tempo e as suas circunstâncias. Uma nota para o facto de haver quem não tenha recebido o convite, pois temos de rever os contactos. É importante não se perder a história e creio que seria digno de atenção fazer-se o registo em livro dessa história, como aqui se está a pretender fazer e como a FAPAG fez nos seus 25 anos, com um livro que conta os momentos mais marcantes dos 25 anos e que conta com os testemunhos dos fundadores e de todos os presidentes até à data. Era importante, de facto, não perdermos história e poder recuperá-la enquanto é tempo. Não sei se o vou conseguir, mas fica o desafio para todos, para que se escreva a História da CONFAP.
Talvez tenham sentido o mesmo há 45, 30 ou 20 anos, mas cada vez mais o que nós verificamos como preocupação central das famílias, é que os filhos tenham boas notas para entrar na universidade. Provavelmente, há 45 anos muitos não teriam como principal objetivo entrar na universidade, também porque havias necessidades mais básicas para satisfazer, como as condições do parque escolar, os apoios sociais inexistentes, etc. O MAP sempre esteve atento às necessidades e foi evoluindo na sua reflexão, discussão e defesa do mais premente para as crianças e para os jovens, conforme se foram conquistando alguns dos objetivos.
Hoje, com muitas das necessidades resolvidas ou pelo menos aceites como imprescindíveis, bem como com o nível académico dos próprios Pais e as suas naturais expectativas relativamente aos filhos, as famílias estão mais atentas aos resultados académicos. Portanto, isso tem levado, de acordo com o nosso sistema de avaliação, a que nos preocupemos essencialmente se o nosso filho tem boas notas a par, ou mesmo antes, da qualidade das aprendizagens.
Com a evolução do tempo, surge a globalização da escola e o aumento da heterogeneidade do universo das populações que a frequenta e o aumento de nível de conhecimento e de informação de que as famílias dispõem e das suas expectativas sobre a escola. Tudo contribui para que o MAP tivesse que evoluir e adequar a sua participação às circunstâncias, bem como a formação/capacitação parental para a legitima representação dos Pais, não só nas AP como nos CG, CT, CP, CME e CPCJ. A complexidade da participação parental legítima e democrática, passou também a ser mais regularizada e normalizada de acordo com as diversas exigências estatutárias, da ética e das leis (associativa, educativa, social, laboral e fiscal). O princípio da nossa participação no movimento associativo já não é o que era, mas na nossa essência mantém-se, isto é, da abnegação, da solidariedade, da responsabilidade e da transparência.
O caminho que o movimento tem feito nesta disputa e neste debate tem naturalmente sofrido algumas variantes. Sem deixar as dimensões das necessidades estruturais que sempre merecem a nossa atenção, hoje centramos muita da nossa atenção na pedagogia, no modelo de ensino e na avaliação. Ontem, em Palmela, perguntaram-me em que nível é que está a discussão nas Associações de Pais. Há quem tenha questões sérias com a alimentação, com as salas, com o conforto que as escolas oferecem, ou com os transportes, como também quem esteja mais preocupado com a avaliação e se o filho vai ou não ser uma pessoa feliz com o que aprende na escola. Nós temos diferenças porque somos pessoas diferentes. Todos temos lugar no debate e cada um importa para que a CONFAP cumpra bem a sua missão, mas temos de estar atentos e interventivos também com as diferenças conjunturais e estruturais, como as diferenças entre litoral e interior por exemplo, e a qualidade dos recursos que contribuam efetivamente para a inclusão e para aprendizagens sustentáveis.
Estas diferenças também nos afetam enquanto Movimento Associativo Parental. Os nossos companheiros do interior e a dispersão geográfica dos membros dos órgãos socias da CONFAP, por exemplo, Castelo Branco, Bragança, Vila Real, Alentejo, ou Algarve, dificulta a presença que é fulcral para o nosso trabalho de inspiração e de capacitação parental. Não tenhamos ilusões, o movimento também experimenta dificuldades, lembro que o nosso orçamento foi reduzido em quase quatro vezes. Nós temos neste momento cerca de 50 mil euros. A crise também atinge a CONFAP, reduzimos o tempo de trabalho administrativo, tivemos de rescindir o apoio jurídico e reduzimos em três ou quatro vezes o custo com a contabilidade. Ainda assim, com uma gestão muito criteriosa, procuramos manter a nossa missão de apoiar e capacitar as mães e pais que querem participar, percorrendo sempre que possível e que nos solicitam, o país.
Há todo um conjunto de condicionantes, algumas bem específicas dos territórios, mas também da perceção dos Pais em relação à escola e às suas vidas familiares que afetam a participação organizada e legitimada no movimento associativo parental. Depois também há aqueles que chegam às Associações de Pais com interesses particulares, às vezes só para terem algum poder, que assumem uma postura mais arrogante, mais individual e sem uma visão de união para almejar os objetivos da nossa participação na educação. Se o fazem seguindo o seu próprio caminho, pelo menos não nos perturbam no pouco tempo que temos para prosseguir a nossa missão, embora acabem por não ajudar a que cheguemos aos Pais das respetivas escolas. Mas outros, situações muito pontuais, ainda tentam perturbar o nosso trabalho num único intento de atingirem outros âmbitos de intervenção apenas por vaidade própria e só por protagonismo. Nós continuamos o nosso caminho a percorrer sempre que possível o país (para a semana, por exemplo, iremos ao Algarve), para envolver as Associações (elas são o suporte do MAP e da CONFAP) e para inspirar os Pais para esta participação que consideramos fundamental na melhoria da Educação e da verdadeira inclusão. Mas cada vez mais é necessária a presença para combater algum afastamento provocado pela intensidade de vida(s) que as famílias têm atualmente.
Foi esta a razão para reforçarmos o peso de representação das federações, para que se envolvessem e empenhassem em construir e apoiar as suas Associações, sendo um fator facilitador na interlocução com a CONFAP. Se uma federação representa 100 associações de pais, fazia sentido que tivesse um peso diferente em relação a uma associação de pais. Parecia fazer sentido, e faz a meu ver, mas com um MAP maturado para tal e com regulamentação apropriada que evite os devaneios individuais que referi atrás.
A bondade desta diferenciação era, por um lado, para que as associações se organizassem, dialogassem e constituíssem as suas federações, por outro, permitia às Associações de Pais uma representação mais forte, através das suas federações, na discussão dentro da CONFAP, equilibrando assim a equidade geográfica e permitindo à CONFAP estar mais assertiva nas suas intervenções sobre os mais variados temas da política educativa. Contudo, e como disse antes, sem a maturidade suficiente e sem uma regulação interna que garanta a democraticidade participativa, verificamos que existe alguma manipulação por parte de alguns dirigentes pelas razões que também já aqui mencionei, logo estamos num processo dinâmico que é preciso continuar a discutir e ajustar ao contexto em que vivemos. Neste momento, considero que as Associações de Pais devem ter o mesmo peso na decisão interna da CONFAP, e pelo que podemos constatar da história até poderá ser sempre assim, relegando a importância das federações para a sua intervenção local com o poder autárquico, e mesmo aqui é preciso encontrar formas regulatórias para não se perder a importância das Associações de Pais. Lembro o que disse atrás sobre as tentativas para instrumentalizar a educação e o processo de descentralização que se aproxima.
Tudo o que envolve a educação e as condições estruturais, de equipamentos e de recursos, é merecedor da nossa atenção e de debate para sermos parte da solução. No MAP nós apresentamos os problemas e propomos soluções. Uns mais outros menos, não deixamos de estar atentos às necessidades das escolas e à melhoria de condições para as crianças e para os jovens, como é o caso da remoção do amianto, dos transportes escolares, da ASE, dos manuais, da segurança e das condições físicas e pedagógicas das escolas. Somos persistentes e exigentes na defesa dos interesses dos nossos filhos e dos seus colegas. Digo-vos que temos a informação do governo de que o amianto vai ser retirado em todas as escolas, era para ter sido até 2019, mas vai ser agora. Estamos atentos a todas estas e outras questões, mas temos que – e esta é uma grande preocupação – conseguir pôr os pais a participar enquanto movimento para sermos mais fortes na capacidade de influenciar a decisão política e as prioridades de intervenção.
O ano passado fizemos o primeiro congresso nacional. O nome congresso é a tentativa de dar projeção ao MAP e à CONFAP. O congresso substitui de alguma forma o Encontro Nacional da AP que se realizava normalmente na véspera da Assembleia-geral. Mas começava a haver dificuldade em as AP poderem estar deslocadas durante um fim de semana e isso afastava os dirigentes deste importante momento de reflexão e debate interno. Procuramos assim dar mais visibilidade e aumentar a participação dos dirigentes através da realização do Congresso que se realiza em alternância com a Assembleia-geral eleitoral. Temos procurado realizar as Assembleias-gerais e os congressos nas localidades onde se constituíram as mais recentes Federações, de forma a apoiar e incentivar a participação parental para o seu desenvolvimento. Foi em Castelo Branco, Terras de Basto e Barroso, e este ano tivemos o segundo congresso em Santarém, com a constituição da FAPOESTEJO.
Nos conselhos gerais conseguimos evoluir em termos de participação, dado que entendi que é dever da CONFAP apoiar nas despesas dos dirigentes associativos para participarem nos momentos mais importantes do debate interno. Assim, neste momento, os representantes das federações podem deslocar-se aos eventos da CONFAP, em qualquer parte do país, pois temos feito uma gestão orçamental para poder comparticipar as deslocações e, normalmente, conseguimos que as autarquias nos apoiem, nomeadamente com as instalações e o almoço. Um trabalho que nos é possível dada a consideração que granjeamos com a nossa ação e com a intervenção de proximidade das nossas associadas que coorganizam os eventos. Estivemos em Setúbal, em Beja, no Algarve, em São João da Madeira, em Vila Real e outras localidades, com níveis de participação das federações muito relevante, 70 a 80 pessoas, de todo o país.
Gente nova chega todos os anos com o interesse de discutir um conjunto de situações relativas à educação. As discussões nas assembleias trazem-nos alguma adrenalina para a participação. Nós temos conseguido nos últimos relatórios de contas, aprovação por unanimidade, não sei se é bom ou mau, se poderá significar que estamos um pouco menos interpelativos, mas creio que se deve a termos construído algum consenso pela transparência e pelo envolvimento. As pessoas estão interessadas e empenhadas, de facto, em perceber e em participar num conjunto de problemáticas, no entanto, acho importante, e era isto que queria deixar aqui também, que revisitemos a história da CONFAP.
Sendo a nossa história fundamental para mantermos a relevância da participação, e considerando a evolução social e humana, importa que quem sai continue a acompanhar, embora respeitando a autonomia e a diferença de quem chega. Os que entram devem conhecer o passado para valorizar os que nos permitiram chegar aqui e o que fizeram para dignificar o MAP. Lembro-me dos companheiros que se hipotecaram para termos uma sede e a quem tivemos a felicidade de comunicar que estavam desobrigados dessa hipoteca. De facto, tem de se ter um espírito de aplicação extraordinário para assumir tal compromisso e a nós compete-nos o dever de honrar tal dedicação. Digo isto, porque às vezes sentimos, certamente os que me antecederam também sentiram o mesmo, que quem chega ao movimento acha que nós não sabemos nada: “Tá cota, já não percebe nada.” Eles, os que chegam, é que são os sábios! E isto pode ser problemático por tudo o que disse até aqui. Quem chega tem de perceber que é preciso aprender com quem está, progredir e dar o seu contributo para melhorar. É todo um trabalho construtivo que, sinceramente, tem vindo a evoluir de forma positiva, mesmo da parte dos nossos principais parceiros como as escolas. Tem havido mais compromisso e mais aceitação porque percebem que estamos para cooperar, construir e discutir com ponderação. Por outro lado, sabem que CONFAP, federações e associações, somos importantes para o desenvolvimento das comunidades. Tem-se feito caminho e continuamos a fazer respeitando a nossa essência. É o que sinto nestes 20 anos de movimento que tenho.
Gostaria também de vos falar da Federação Europeia a quem já estivemos associados, mas que infelizmente deixamos por dificuldade de tempo e de financiamento, dado que a quota era de 600€, mais os custos de participação em Assembleias que se realizam por toda a Europa. Ainda tentamos que o governo nos pudesse apoiar para esta participação, mas não se mostraram disponíveis para isso. O Hermínio tem andado, até por outras razões, a acompanhar esse movimento, pois é importante percebermos algumas realidades do que se passa noutros países.
Mas ainda temos muito para fazer dentro de portas, ao nível das federações e das associações, porque como vos disse, ainda temos muitas lacunas, quer no interior, quer nalguns pontos do país. Temos muitas federações que estão constituídas e têm dificuldades no seu funcionamento, pois é mais difícil implicar os pais numa federação do que numa AP. Os Pais, naturalmente, preocupam-se mais com a escola do seu filho/filha. Por isso, compete-nos ajudar a que percebam a necessidade de não descurar a escola desde o 1º ciclo até ao secundário e a não perder também, enquanto sociedade, a perspetiva da continuidade que deve envolver o MAP. É isto que temos vindo a construir e queremos implementar um programa nacional de capacitação parental com três vertentes: a da participação no movimento associativo, da participação na escola e do acompanhamento dos filhos em casa. Tenho consciência das limitações de tempo e de meios, mas não podemos deixar de tentar e de inspirar o futuro aos vindouros.
Nesta perspetiva a continuidade, com as diferenças próprias de cada um, tem de ser conseguida, bem como registar a nossa história, no que é imprescindível a colaboração de todos. Aos companheiros que nos antecederam peço a colaboração para partilhar as respetivas experiências e para colaborar na escrita da história. Vocês têm o conhecimento que mais ninguém tem e, sabendo que já estão noutra, podem dar um pouco do vosso tempo para este importante desígnio. Se já não for possível comigo, procurarei que quem vier tenha esta preocupação. Temos mais de 40 anos e o passado sempre nos facilitará a construção de um futuro mais promissor. Hoje há mais tranquilidade na intervenção e na discussão, o que não significa e não pode significar, menos empenho, menos trabalho e menos envolvimento, pelo contrário é um fator contributivo para a melhoria qualitativa da nossa participação e da nossa educação. Tive e tenho a preocupação de construir esta visão, procurando ter comigo toda a história da CONFAP e do MAP.
Não podemos esquecer que os nossos jovens chegam mais tarde às escolas como Pais e, como vos dizia: “Os pais são cada vez mais conhecedores e habilitados na diversidade de saberes que nos enriquecem”, o que sendo muito positivo também nos exige maior capacidade de diálogo e de relacionamento.
Insisto, é muito importante conhecer e perceber a história. Ao longo dos meus 20 anos de participação no movimento, desde 2011 diretamente na CONFAP, reconhecer o trabalho das associações e das federações, aqui estamos com a FERSAP, em termos formativos e informativos, de produzir e partilhar documentação, em suma de contribuir para a participação cívica e civilizada dos Pais na educação escolar dos filhos.
Cada território tem de se organizar para poder trabalhar em coletivo e atrair cada vez mais Pais, seja com as suas associações de pais, seja com as federações. Nós na CONFAP, aquilo que procuramos, e nem sempre é fácil porque nem sempre comunicamos, é reunir todos aqueles que nos permitam discutir de forma fundamentada junto de quem de direito, ou seja, do governo, da autarquia, da escola, para fazer valer aquilo que nos preocupa e que importa para as nossas comunidades.
Assim é de assinalar e felicitar os 30 anos da FERSAP num movimento como o nosso. Sabemos bem, todos os que aqui estamos, o que isso é. É uma honra estar a presidir à CONFAP e dar continuidade àqueles que tanto esforço fizeram no início para gerar este movimento, que consegue persistir, mesmo em condições adversas e em alguns momentos desanimadores. No entanto unidos, em AP, Federação e na CONFAP, conseguimos ultrapassar as dificuldades e incentivar-nos mutuamente para continuar a defender o melhor possível os interesses dos nossos filhos, mas também de todas as crianças e dos jovens.
Ninguém acredita que nós conseguimos funcionar com um orçamento tão limitado, toda a gente fica surpreendida com a nossa capacidade de trabalho e de presença. Nós sabemos o que nos move e a vontade abnegada que nos convoca para esta missão que assumimos voluntariamente, e que só com uma boa gestão, com muitos recursos próprios, tem sido possível ao longo de 40/30/20/10 anos, apesar de tantas areias movediças e de tantos pedregulhos pelo caminho. É obviamente obra de todos aqueles que começaram e daqueles que continuam.
A grande preocupação de um líder, na associação, na federação e na confederação, é que quem continue, consiga aguentar e dar continuidade ao trabalho feito até então. Sei bem dos perigos que corremos neste momento, mas também acredito muito na força, na garra voluntária e no esforço que os pais são capazes de dar para defender os interesses dos filhos. As nossas lideranças são feitas deste caráter.
Parabéns, amigo Orlando e à sua equipa, bem como a todos os que contribuíram para fazer da FERSAP a FERSAP, por este momento. Terei todo o gosto, se quiserem partilhar a história que nós construímos e está registada na federação, porque é um exemplo, como é a construção e o registo em livro da história da FAPAG. Histórias que devemos partilhar com a CONFAP para ser mais conhecida e ajudar a consolidar o MAP. Tenho apelado frequentemente para que outras associações possam escrever e partilhar a sua história com o MAP através da CONFAP, contribuindo assim para que também possamos ter o registo organizado da história de todo o MAP. Com as Associações, como a FERSAP, dar relevo ao envolvimento parental e continuar a construir. Temos de ter a noção de que só vamos conseguir bem e melhor para o nosso concelho e para a nossa escola se estivermos unidos no país como um todo, pois as políticas e as medidas locais estão de alguma forma dependentes das políticas nacionais e da nossa intervenção. Não entender isto é não perceber a essência do nosso Movimento Associativo. Porque a educação e o trabalho que fazemos é mais do que a minha escola, mais do que o meu concelho e mais do que a minha região.
Foi um gosto rever aqui pessoas que não via há muitos anos e que muito considero, como também é um gosto peculiar conhecer companheiros que deram muito ao MAP, é uma honra, pois a nossa existência e o facto de estarmos aqui a eles se deve. É um sentimento de felicidade e de orgulho como foi o que me aconteceu em Coimbra na celebração dos 40 anos da CONFAP. Para mim é sempre emocionante e gratificante ver pessoas do início da história da CONFAP, que vêm a estes encontros e nós pensarmos: “Espera lá, eu estou aqui, mas estes aqui é que deram o caminho e a plataforma para que nós possamos cá estar.” E isso é que traz credibilidade à CONFAP e às federações. Bem hajam!
É a nossa história que temos de conhecer, respeitar e consolidar.
Vamos escrevê-la, vamos partilhá-la e ver se conseguimos concretizar esse registo também na própria CONFAP.
Obrigado.