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Carlos Santana

Presidente da APEE da EB2,3 de Aranguez

Boa tarde, isto já é quase boa noite. Estamos aqui desde as 8 da manhã, não é? Nestas coisas, o Orlando diz sempre: “– Epá, precisamos de ti. Vais lá tirar umas fotografias”. Mas isto agora já está enraizado porque ao princípio, eu tenho de partilhar a história deste companheiro e do que falou agora [Mário Novais], desculpem lá os nomes, porque para mim, nomes é uma história muito complicada.

Recebo precisamente um papel para ir à escola, a uma reunião da assembleia da associação de pais, não foi daquela pequena que ali está, foi do irmão, que, entretanto, já mudou de ciclo. Já foi para uma escola onde eu também já fiz parte da associação de pais, com o Carlos Calçada que aqui está, mas isto começou de uma maneira engraçada. Eu recebo aquele papel, associação de pais, o que é isto? O nome dizia qualquer coisa, mas o contexto em si, a orgânica, vamos ver o que é. Portanto, isto já foi há 4 aninhos, quase 5. Entretanto, naquele dia, o Farto disse-me assim: “– Não saímos daqui sem a lista dos nomes.” Portanto, ele já trazia alguns nomes preparados, tanto o Farto, como o meu presidente que cessou o ano passado, o Eduardo, que também pertenceu à COSAP. O Eduardo já trazia, porque ele e o Farto é que reativaram, novamente, a associação, portanto, eu pertenço à associação da EB 2,3 de Aranguez, pertenci também à da Sebastião da Gama e também faço parte do conselho geral, juntamente com o Orlando, do Agrupamento de Escolas Sebastião da Gama.

Quanto à questão dos conselhos gerais, a gente já lá vai que eu também partilho, um bocado, a mesma opinião, mas o Orlando conhece-me. Eu nessa área não lhes dou hipótese, porque eles são doutorados, vereadores e eu só tenho o 12º ano, com muito prazer e muito orgulho e não tenho mais porque não pude, não consegui, se calhar também não me interessou, mas não é por isso que eu viro a cara à luta e não faço alguma coisa, e quem me conhece sabe-o bem. Eu vou agora partilhar a minha experiência.

Ponto nº 1. 33 anos de FERSAP, parabéns! O Sr. Calçada para mim é uma referência, os outros, lamento, peço desculpa, não conheço, também sou mais novo nestas andanças. O Sr. Calçada é uma referência, o Farto foi uma referência e, agora, neste momento, a minha referência é o Orlando, a quem eu, como presidente da associação da Aranguez, convidei para presidente da mesa da assembleia da Aranguez. Convidei-o porque ele tem lá a filha. Ele aceitou o convite e ainda bem, porque é a pessoa que trata da questão toda: papéis, leis, decretos, essas coisas todas, que eu não tenho pachorra nenhuma para isso. Eu tenho pachorra é para num dia de reunião do conselho geral, às 17:00h, estar a subir o pavilhão e o telhado da escola para fotografar todas as telhas de amianto partidas para, ainda nesse dia, ir entregar o relatório e as fotografias à nossa diretora do agrupamento e ao nosso vereador, como sabem, eles pertencem às reuniões do conselho geral.
À luta, eu vou. Agora os papéis eu entrego ao Orlando e venho tirar umas fotografias de vez em quando, porque ele me convida e diz que gosta muito das minhas fotografias, não é das minhas, felizmente é da máquina. Com isto, quero partilhar os parabéns à FERSAP, quero também enaltecê-los a todos, eu sou ainda muito lento nestas questões das filiações superiores às associações. Portanto, nós na nossa associação temos um movimento muito dinâmico, conseguimos fazer coisas muito giras, conseguimos captar verbas para nós.
A coisa mais difícil que nós temos de captar, são os pais e isso é transversal, salvo erro, ao país todo e, com isso, a gente debate-se naquilo com que vocês se debateram, que é a questão das soluções e, se calhar, hoje em dia mais difícil será, como já foi dito nesta sessão. Portanto, eu mais tarde sairei da associação de pais, a minha filha está no 7º, logo, espero lá estar até ao 9º, provavelmente passará para a Sebastião da Gama, eu não sei se na altura estarei na Sebastião da Gama ou não. Ou seja, eu saio de uma e vou para outra, porque tenho-a lá. Provavelmente mais tarde, espero que o meu filho nessa altura já esteja na universidade, mas quem é que virá depois de mim naquela? É chato.
A questão hoje em dia – eu penso um bocadinho diferente de algumas opiniões que os colegas vieram aqui transmitir –, é assim – o Orlando já me conhece um bocadinho –, eu vou para as reuniões e abstenho-me de fazer referência a um qualquer problema que a minha filha tenha tido ou que o meu filho já teve na escola. Eu falo da escola toda, para os pais todos. É claro que eu estou lá porque a minha filha é educanda lá.
Agora, na questão da envolvência, eu tenho pessoas este ano na nossa associação, que só entraram para lá com o intuito de defender os seus filhos e é legítimo e aceita-se. Quando perceberam que o movimento e o dinamismo da associação implicava defender mais pessoas além dos seus educandos, a coisa já começou a não ser a mesma. É muito difícil captarmos os pais, pois é. Como é que se pode dar a volta a isso?
Eu e a minha coordenação de escola estamos a tentar achar alternativas, porque este ano, felizmente, temos uma boa coordenação de escola. Isto é importante que se diga, porque é assim, é como o colega [Mário Novais] diz, eu sou membro de um conselho geral. Agora, na última reunião geral, entrou mais um representante, foi uma substituição, que até era representante dos pais.
“Ah e tal, quero dar as boas-vindas à senhora, membro dos representantes dos pais”. E eu questiono o nosso presidente, o professor Joaquim Godinho: “– Sr. Presidente, a nova representante dos pais pode ter outras valências, pode não ser só representante. O cargo é representante dos pais, mas a senhora pode ter outras valências. Olhe, as minhas é arranjar-vos os PCs de vez em quando; é tirar fotografias dos eventos quando venho cá. Não sou doutorado, mas também tenho outras valências.”
E nós estamos cá, também, para representar o conselho e para defender os nossos pontos de vista que podem convergir ou não com alguns dos que os senhores tenham. Foi a nossa primeira reunião e a nossa primeira apresentação como membros do conselho geral, eu e o Orlando levámos uma pequena apresentação a comunicar, a partir daquele momento, qual era a nossa postura em termos de conselho geral. Nós fizemos essa apresentação como representantes dos pais, logo aí, todos os presentes, ou seja, todo o conselho elogiou a nossa postura porque ninguém, até àquela altura, tinha feito algo parecido com aquilo. Nós achámos que tínhamos de ter uma postura totalmente diferente como membros do conselho geral, enquanto representantes dos pais.
Os conselhos gerais são coisas boas para nós, para os pais, para os membros das associações, porque são os órgãos de decisão, é ali que as coisas se vão debater a nível de agrupamento, a nível de escolas, a nível de muitas coisas, pelo que podemos ter ali um fator importante, quer numa tomada de decisão, quer, pelo menos, no assumir de uma posição nossa em relação a todas as questões que sejam debatidas.
No que diz respeito às nossas associações, este ano conseguimos ser razoavelmente bem sucedidos na captação dos pais. Somos nós associação que temos de ir à procura deles. Infelizmente ou não, não sei se será, somos nós que os temos de procurar – e já seguimos esta linha de ação há uns 2/3 anos e eu acho que vai passar um bocado por aí.
Porque eles só vêm à nossa procura quando há problemas e só estão ao portão à nossa espera para falar connosco quando há problemas. Aí é que eles estão lá.
Nós, na nossa coordenação de escola, este ano, estamos a tentar fazer o seguinte – até foi há pouco uma ideia sugerida pelo Boa-Nova –: há um problema qualquer, nesse dia convoca-se a assembleia de pais que eles estão lá todos, e vota-se. “– Olha, já que estamos aqui todos, aproveitamos e fazemos a assembleia geral”.
É claro, não é essa a base, mas terá de ser um bocado por aí. Nós estamos a tentar conseguir da nossa coordenação, programar atividades para que alguns pais que vão à escola para ver as atividades dos filhos, sejam por nós abordados, dizendo-lhes: “– Olhe, já que aqui está, temos uma salinha aqui ao lado do auditório… Nós temos ali uma coisinha pronta para si.” E alguns ficam assim um bocado perturbados, “– ah, mas eu só vim cá fazer isto.” “– Não, faz isso e também faz isto, leia lá aí o papelinho a ver se não lhe interessa.” “– Ah, pois, está aqui qualquer coisa.” “– Então faça favor, nós já lá vamos ter consigo.”
E é o que há pouco estava a dizer, conseguimos este ano – está ali o Orlando que pode confirmar – um recorde de 30 e poucas pessoas numa assembleia geral de pais, e o que é grave ao dizer isto, é que temos 800 pais. Somos uma escola com 40 turmas. Supostamente devíamos ter 800 pais.
Quer dizer, temos, mas onde é que eles estão? É o que nós sabemos. Os nossos horários também não ajudam. Eu ainda vou trabalhar e é um sábado. O Orlando pediu-me e eu agradeço-lhe o convite e ele sabe que eu estou pronto a colaborar e a ajudar. A nossa sociedade de consumo também é desculpa; a nossa perda de valores também é desculpa. Nós despejamos os nossos filhos na escola e esperamos que a escola faça o trabalho todo, também é verdade. Todos nós, inclusive eu. Sou só Santana de nome, não sou santo. Temos todos um bocadinho de culpa disso tudo, porquê?
Porque nos impuseram novos valores, novas maneiras de pensar, novas maneiras de consumir, de trabalhar, novas maneiras de fazer tudo e perdemos um bocado os valores que tínhamos e nos impeliam à luta. Vocês que estiveram na luta certamente tinham-nos, porque eram valores com mais peso; porque, provavelmente, também tinham questões mais sociais, mais políticas; e os movimentos associativos de início do pós 25 de abril tinham muito mais força e tinham muito mais exposição do que aquela a que nós assistimos hoje.
Para concluir, obrigado ao Orlando, o meu companheiro de luta, ao Sr. Calçada, que também entrou nisto um bocadinho, aos companheiros todos que têm boas histórias, foi um prazer ouvir-vos e engrandecer-nos a nós com as vossas experiências e vivências e as vossas partilhas.
Eu, pela minha parte, ainda não estou com o “chip”, peço desculpa, virado para os níveis superiores. Para a COSAP eu colaboro.
Tive uma grande luta com o Orlando. Não quis pertencer à COSAP ainda; à FERSAP, provavelmente ainda não, não se sabe. Mas quero antes deixar o meu legado e trabalho base pelas associações. Será que estou certo? Talvez não, o tempo o dirá. Mas primeiro quero trabalhar com a associação, com a minha escola, com as associações de pais do nosso agrupamento, coisa que eu tive o prazer, com o Orlando, de andarmos atrás das pessoas, a procurá-las. Já estivemos, o ano passado, nas sete escolas do agrupamento, na representação a nível de movimento de pais em todas, até de uma escola que tinha duas turmas, a das Praias do Sado. É uma escola de 1º ciclo que, por razões legais, nem podia ter associação de pais, mas em que nós fizemos força perante a nossa diretora, para que pudesse ter, pelo menos, uma representação através de alguém que, quando fosse preciso, representasse os pais dessas turmas. E conseguimos, até certo ponto.
Isto depois, há pessoas que entram, há pessoas que saem, voltam a entrar noutros lados, eu acho que o grande desafio será então as nossas maneiras de, juntamente com as escolas – porque sem as escolas isto não é possível –, dar a entender e fazer ver às escolas que as associações de pais e os pais não vão estar só presentes para os encontros, para os eventos, para a festa do croquete, etc.
Têm de estar presentes nas discussões do dia a dia das escolas; têm de estar presentes quando há um conselho de turma; têm de estar presentes quando há um problema qualquer. E não é só o paizinho do menino ou a mãezinha irem lá bater à porta. Não. Temos de lá ter um representante.
Nós fazemos força para estar e temos de lá estar.
O conselho pedagógico mudou agora um bocado as regras do jogo, e há por aí um despacho qualquer, em que o pedagógico já não permitia – e eu e o Orlando fizemos força contra isso –, já não nos permitia a presença nas reuniões pedagógicas. A diretora pode convocar, talvez não convoque porque não quer.
Antes, íamos às primeiras partes dos conselhos de turma e agora nem tenho recebido convocatórias para isso.
Isto é o segundo ponto. Também temos de dar a entender às escolas que queremos fazer parte da vivência diária das escolas. Se somos parceiros tão privilegiados para as questões em que a escola acha que deve chamar os pais, também o deveremos ser em quaisquer outras questões e, inclusive, estar contra as diretivas da escola, sempre que isso for justificável. Eis aquilo que poderá ser o nosso papel e os nossos limites.
Isso também afasta as pessoas, é lógico. Isso também afasta os pais. Qual é o pai que quer pertencer a uma associação de pais se, depois, até para entrar na própria escola dizendo que é da associação de pais, é posto um pouco à margem. São estas questões que eu acho que nós, nas associações, nas concelhias e nas distritais, deveríamos pensar um bocado e debater também qual vai ser o modelo futuro para as associações e a maneira disto tudo interagir, porque senão, qualquer dia, chateamo-nos e cansamo-nos e não temos ninguém, nem com vontade, nem com presença suficiente, nem com a assertividade suficiente para continuar isto.
E depois, andamos cá a fazer o quê?
Obrigado a todos, boa noite.